28.2.09
25.2.09
23.2.09
18.2.09
17.2.09
Quentinho, não?
15.2.09
Memória de Eqcards
13.2.09
Eremita: Oásis
Longe do ar abafado pela respiração das engenhocas do humano, escondido entre serras de um cinzento esverdeado, enfeitadas de um nevoeiro poderoso, uma planície viva, que descia nascida de uma colina arrebitada e triste, estendia-se longa e acolhedora. Não havia árvores que manchassem aquela liberdade verde clara, assim sem relevo. Apesar das brumas, que se amuralhavam em volta das colinas, o sol gemia um brilho fraco, mas insistente, recôndito por detrás das nuvens.
Contra a pele sentia uma brisa leviana. Respirava o ar fresco da Primavera. Hoje, o verde iluminava o seu dia. Uma lufada de ar quente, quase molhado de tão húmido, encostou-se-lhe ao ouvido. Olhou para o pujante amigo. Um cavalo ruço, brandindo um cinzento quase branco, escurecendo em direcção aos membros posteriores e anteriores. As crinas penduravam-se de um cinza mais escuro, a cauda assemelhava-se a um estandarte de um dourado natural. Era nele que se embrulhava feliz. Era nele que florescia. A liberdade impunha-se, quase sólida, sobre o seu coração.
O calor que vinha dele resplandecia numa escuridão vazia. Trovejava como um dia limpo e solitário no Inverno. Desenhava-lhe as formas concisas do rosto mais sorridentes.
Montou-o, sentindo a paz tocar-lhe nas áreas que com a cavalgadura contactavam. Respirou. Respiraram. Em uníssono, unidos. Despidos de qualquer barreira entre eles e a liberdade. Com palavras silenciosas, pediu-lhe o galope. Atravessaram o prado livre, eterno, vazio e completo. Na maior solidão, na melhor solidão, na melhor companhia. Todo o resto do mundo se extinguia na essência daquela emoção.
Filipe Dumas, 10 a 13 de Fevereiro de 2009
10.2.09
The Trap
The pretty boxes out there are calling us,
Their colours and lights want to eat us
And we’re flying like stupid culicidaes
Like if there were no other ways.
We cut off our hands and they can reach us,
They know how to take our brains from us
And we suicide like horny spiders.
Who’s the martyr here anyway?
9.2.09
A Árvore Do Amor
A Paisagem Da Vida
8.2.09
Infância
Perdida já no horizonte passado,
Alagada de longas esperas vividas,
Esquecida pelas mudanças do fado,
Marcada pelas paixões nela nascidas,
Sedenta do amor que a deixou de lado,
Lar daquelas emoções há muito idas.
Do sorriso vazio ao sorriso apaixonado
Degrau a degrau ganhei o toque de Midas,
Subindo em direcção ao reino dourado
Da felicidade e das heresias permitidas.
Assim construí a base dum soldado
Apaixonado pelas mais perfeitas vidas.
Filipe Dumas, 2 a 8 de Fevereiro de 2009
Aí está um bónus, o quadro O Nascimento.
7.2.09
O Que É Original?
4.2.09
Audição De Guitarra
Ghosts I-IV
Megalomaniac
1.2.09
Muros
Como mencionei no post anterior, escrevi um texto juntamente com o Refúgio. Aqui está ele.
Isolado. Por escolha ou por discriminação, é dúbio. Um grito e outro deixavam sair aquilo que na prisão não deixavam fazer. Dançar com pincéis e canetas, cantar com guitarras e pianos, deixar aquelas emoções mesquinhas que doíam como agulhas, espetadas simultaneamente em vários pontos do seu corpo, arrepiando.
Aqueles arrepios quentes, quase sensuais, mas que nos espetam o dedo médio na cara. Aquela sensação de que um verme se passeia pelo nosso peito, mordendo aqui e ali, só para se divertir com o nosso sofrimento. E pensar que não o matamos por medo. Medo de quê? De perder o que temos, o que poderemos vir a ter, do mundo “real”? Prefiro matá-lo, acabar com os arrepios. Acordar deste sonho conduzido pelo preconceito da vida perfeita e banhar-me no mar livre da isolação e criação.
Descer fundo, muito fundo. Pesquisar. Mergulhar cada vez mais fundo na essência do eu, para encontrar aquela existência escondida. Escondida por várias camadas de mentiras e propaganda, que tão intrínsecas estão no nosso corpo e alma que nem damos por elas. Sujos. Estamos todos sujos, nojentos. Uma lama invisível, leve, mas ao mesmo tempo tão pesada e tão grossa que nos cega.
Desencanto. Coitado dele, do mundo, do vizinho e do colega. Perdidos. Como todos nós. Criámos uma verdade que sem a qual não conseguimos sequer compreender qualquer sentido. Lógicas contraditórias. A realidade confusa e irreal. Ambígua, destruidora, assassina daquele que a pretende ver. É como querer descobrir o que acontece quando uma bala é disparada. Encostamos o olho ao cano da pistola e disparamos, para ver o que realmente acontece. Mas isso é uma má ideia, definitivamente. Devia manter o contacto comigo mesmo e manter-me afastado do limite da minha compreensão. Assusta que até dói.
Isolado, sem necessidade de procuras, sem necessidade de combater este mal que ou nos protege ou nos destrói. De que estou a falar, sequer? Já me perdi neste labirinto. E não trouxe pão.
Eremita: Refúgio
Numa calma intensa, atravessou-o a brisa, limpando aquelas farpas emocionais que lhe estavam espetadas na pele. O seu sono era mais sossegado. Sentia-se limpo, livre daquelas inúteis e irritantes emoções. Este banho mental que tomara no oásis da Humanidade refrescava-lhe a cabeça, esclarecia-lhe o pensamento. Estava ausente do seu passado, presente e futuro. Fora do eu moderno. Fugitivo das circunstâncias que haviam tornado a sua vida num objecto comercial. Agora respirava livremente. Despachado das mucosidades que o entupiam.
Acordou. Sentiu um frio ligeiro, daqueles que dão gozo ao acariciar a nossa pele. Os olhos abriram-se, sem sono. O Sol erguia-se por cima do horizonte, convidando-o a levantar-se e recomeçar o dia anterior. Recomeçar – não reviver –, dar um novo sentido, dentro do seu caminho em direcção ao final, apanhando pelo caminho, nas árvores que acompanhavam a estrada, o fruto da felicidade, em cada acção que enchesse o copo.
Sem mais hesitação, entregou-se ao dia. Várias ideias puseram-se em fila. Olhou para a janela, deixou-se inundar pela paisagem vazia. A isolação saudável. Longe da violação psicológica da autoridade ou das preocupações interessadas e superficiais dos supostos irmãos. Os olhos arregalaram-se, calmos e apaixonados. E, antes de qualquer coisa, decidiu pintar. Antes de qualquer necessidade biológica. Procurou uma tela, tintas acrílicas e os pincéis que se adequavam ao que inspirara a sua mente. O transe começara. Não sairia dali até a fome ou a bexiga apertarem.
Do pincel despertou uma linha, de cor verde clara. Cresceu até se transformar num horizonte. Depois, uma planície interminável. O céu brilhava. Um cavalo galopava com força e leveza. Era de um ruço quase branco, de crinas cinzentas como a memória do seu dono. Parecia ter um brilho inerente. Um vermelho escondido, de paixão.
Estava simples. Terminou rapidamente. Agora podia dedicar-se ao seu próprio corpo. Sentia-se completo. Não necessitava de mais nada para além do que ali tinha. Longe dos momentos irritados, tristes, de preocupações mundanas. Soberbo e humilde. Saudades guardava apenas uma. Agora guardava-se para o amor que sentia à arte e ao seu único companheiro. Este vivia perto dele, livre, nos campos circundantes, ilustrando a liberdade esboçada pelo amigo humano. Desde cedo que esta paixão estava incrustada no coração do eremita. Foi um dos convites à sua situação. Uma das mais importantes ligações com a Natureza. A mais intensa, apaixonada, ardente. Tornava a liberdade numa emoção. Uma refeição do sentimento que construíra com o cavalo.
Abriu a porta com ânsia de sentir o ar fresco do vale isolado, desejoso apenas de se juntar ao companheiro.