13.2.09

Eremita: Oásis

Sendo este o terceiro capítulo, para quem não leu os dois primeiros, deixei as respectivas imagens para quem quiser ir lá ter.



Eremita



Refúgio



Oásis


   Longe do ar abafado pela respiração das engenhocas do humano, escondido entre serras de um cinzento esverdeado, enfeitadas de um nevoeiro poderoso, uma planície viva, que descia nascida de uma colina arrebitada e triste, estendia-se longa e acolhedora. Não havia árvores que manchassem aquela liberdade verde clara, assim sem relevo. Apesar das brumas, que se amuralhavam em volta das colinas, o sol gemia um brilho fraco, mas insistente, recôndito por detrás das nuvens.
   Contra a pele sentia uma brisa leviana. Respirava o ar fresco da Primavera. Hoje, o verde iluminava o seu dia. Uma lufada de ar quente, quase molhado de tão húmido, encostou-se-lhe ao ouvido. Olhou para o pujante amigo. Um cavalo ruço, brandindo um cinzento quase branco, escurecendo em direcção aos membros posteriores e anteriores. As crinas penduravam-se de um cinza mais escuro, a cauda assemelhava-se a um estandarte de um dourado natural. Era nele que se embrulhava feliz. Era nele que florescia. A liberdade impunha-se, quase sólida, sobre o seu coração.
   O calor que vinha dele resplandecia numa escuridão vazia. Trovejava como um dia limpo e solitário no Inverno. Desenhava-lhe as formas concisas do rosto mais sorridentes.
   Montou-o, sentindo a paz tocar-lhe nas áreas que com a cavalgadura contactavam. Respirou. Respiraram. Em uníssono, unidos. Despidos de qualquer barreira entre eles e a liberdade. Com palavras silenciosas, pediu-lhe o galope. Atravessaram o prado livre, eterno, vazio e completo. Na maior solidão, na melhor solidão, na melhor companhia. Todo o resto do mundo se extinguia na essência daquela emoção.

 

Filipe Dumas, 10 a 13 de Fevereiro de 2009



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