1.2.09

Muros

Como mencionei no post anterior, escrevi um texto juntamente com o Refúgio. Aqui está ele.


   Isolado. Por escolha ou por discriminação, é dúbio. Um grito e outro deixavam sair aquilo que na prisão não deixavam fazer. Dançar com pincéis e canetas, cantar com guitarras e pianos, deixar aquelas emoções mesquinhas que doíam como agulhas, espetadas simultaneamente em vários pontos do seu corpo, arrepiando.
   Aqueles arrepios quentes, quase sensuais, mas que nos espetam o dedo médio na cara. Aquela sensação de que um verme se passeia pelo nosso peito, mordendo aqui e ali, só para se divertir com o nosso sofrimento. E pensar que não o matamos por medo. Medo de quê? De perder o que temos, o que poderemos vir a ter, do mundo “real”? Prefiro matá-lo, acabar com os arrepios. Acordar deste sonho conduzido pelo preconceito da vida perfeita e banhar-me no mar livre da isolação e criação.
   Descer fundo, muito fundo. Pesquisar. Mergulhar cada vez mais fundo na essência do eu, para encontrar aquela existência escondida. Escondida por várias camadas de mentiras e propaganda, que tão intrínsecas estão no nosso corpo e alma que nem damos por elas. Sujos. Estamos todos sujos, nojentos. Uma lama invisível, leve, mas ao mesmo tempo tão pesada e tão grossa que nos cega.
   Desencanto. Coitado dele, do mundo, do vizinho e do colega. Perdidos. Como todos nós. Criámos uma verdade que sem a qual não conseguimos sequer compreender qualquer sentido. Lógicas contraditórias. A realidade confusa e irreal. Ambígua, destruidora, assassina daquele que a pretende ver. É como querer descobrir o que acontece quando uma bala é disparada. Encostamos o olho ao cano da pistola e disparamos, para ver o que realmente acontece. Mas isso é uma má ideia, definitivamente. Devia manter o contacto comigo mesmo e manter-me afastado do limite da minha compreensão. Assusta que até dói.
   Isolado, sem necessidade de procuras, sem necessidade de combater este mal que ou nos protege ou nos destrói. De que estou a falar, sequer? Já me perdi neste labirinto. E não trouxe pão.

3 comentários:

Anónimo disse...

tmb me perdi...xD

Unknown disse...

... mundo que "ou nos protege, ou nos destrói"...(?)...
que tal "nos protege E destrói"? Se a protecção implica deixar de lado 'A' parte de nós...

Anónimo disse...

disseste coisas que eu gostaria de saber como dizer. (: são coisas que também sinto.
da primeira vez que o li (há um tempinho) acho que também estava perdida, mas hoje fez todo o sentido. sei lá.
(: