25.2.10

entra e desliga a luz


enrolo-me numa existência que é vidro embaciado e engulo pétalas e rubis maiores do que eu. já desapareci, deixei a esperança numa cama cor de sangue, de lençóis transparentes e mortos sobre o seu corpo nu, estendidos até ao chão. foi nesse momento que o mundo caiu - partiu-se repetidamente, nos seus vários embates contra uma qualquer superfície dourada - que delicioso. as ninfas cantam a música que sátiros tocam nas cavernas do meu cérebro. já não há escuridão. já não há luz. eu tomo conta do altar desta catedral que improviso com as minhas costelas. sou o regente de algo que não me pertence. vem buscá-lo. rogo-te. imploro-te. traz-me à vida. vem buscá-lo.

viagem ao infinito




21.2.10

scatterbrain


you're written all over me
scattered across my brain
a bloodstain on my eye
kick me out the window

Lydia Lunch. nham nham. foi óptimo.

17.2.10

poema do vagabundo


tenho um piano entalado na garganta e as gárgulas parecem-me sempre bonitas. têm a sua magia e consigo vesti-las com qualquer disfarce. hoje ninguém dorme nas ruas, há abrigo neste poema – e este poema é dormir nas ruas. é sentir a madeira quebrantar sonoramente quando a atiramos contra as paredes e saltamos em cima dela aos gritos. é esta respiração alucinada e silenciosa que se passeia pelo ventre da noite (é dizer amo-te). é este enlouquecer de todos os verbos quando os meus dedos tocam a tua pele descoberta. é entalar um piano na garganta como se fosse a última coisa que respiraria antes de morrer e é estar apaixonado pela morte.


16.2.10

(parece que estou a fazer sexo com Chopin.)
tenho saudades, porra.
(yup, é uma guitarra, ali no meio)


15.2.10

Alentejo




soulmates never die




irritante. assombroso.
apaixonado. perdido.


10.2.10

já nem interessa.

prefiro mistérios, às vezes. posso tomar banho? não me vistam de capuz - não sou a morte nem o capuchinho vermelho, mas visto-me de sangue. tenho saudades do infinito. as linhas de comboio cruzadas são perigosas, mas mesmo assim sinto-me bem nas intersecções entre rectas.

erato & funesto

as orquídeas abrem-me as pálpebras como um sufoco enorme. pareço um quadro de Dalí. o corredor árido convém-se fraco e só, e nele Erato já não se passeia. este exotismo interior – que não se deixa compreender – desenlaça-se em enigmas múltiplos e em sopros de ouvido.
mais uma vez, um insecto bebe o meu sangue enquanto choro à beira do riacho. fui eu que o chamei para lhe sussurrar ao ouvido: “faz-me um grego”. que frustração que não consigo esculpir. novamente o mistério deste bosque e dos olhos que me espreitam famintos, da escuridão.
não há cemitérios vestidos de noiva, apenas palavras que se entrelaçam como sexo puro. um transe distópico que me seduz com a sua perversão bela.

9.2.10

i wonder where have i left my veins?

7.2.10

não me desafies (que eu posso perder)




é então que me chateio, rodopio no ar estas filosofias de merda e atiro-as contra o chão. se as flores de jasmim me brotam dos olhos para ver o mundo, por que haveria de vomitar estes versos feitos de lama? os monstros não saem da sarjeta das ruas à noite para nos virem bater às portas. estão nos punhais que todas as bocas e olhos empunham a medo. não me lixes. a sério, sabes que as canetas caem ao chão quando as largamos. as flores costumam fechar-se à noite, mas tu sabes que as minhas nunca fecham. perduram na noite infinita, por ti. mesmo com os luxos que bordas na minha pele. sabes que me magoam. temo despedaçar o quebra-cabeças ao dizer-te interjeições inúteis. mas as peças são fortes e eu esqueço-me disto. por isso é que hoje te contei esta história.

4.2.10

time & passion & life & beauty & suffering & death