Não sei bem como o faço. Apenas me sai. Esgueira-se intrepidamente da minha alma, através dos meus dedos. Algo como a música, que parece trespassar os nossos corpos e se entrelaça dentro do nosso cérebro, acariciando-o ou investindo contra as suas paredes, expulsando tudo lá de dentro. Como um transe. Uma possessão. Algo calmo e atormentador.
Precisa-se de técnica, é certo, mas apenas se precisa dela para complementar com beleza, com estética. É como na música. Alguém que não saiba tocar pode, no entanto, saber o que tocar. Apenas lhe falta saber como o fazer. Mas a essência, o sentimento, está lá.
Há poemas que demoram apenas alguns minutos para despejar num papel ou no computador, que não precisam de tanto tempo a eles dedicado. Os mais espontâneos, ainda que pensados minimamente, sentidos. Há outros que demoram horas, dias, semanas.
Escrever, pintar, esta produção de poesia não é algo que escolho fazer, é algo que eu sinto que quero dizer, deixar sair. É como um instinto. A ideia já me está entranhada, claro. Nada é perfeito ao ponto de criarmos algo do nada. Mas qualquer coisa pode despertar esta vontade. Um evento, uma palavra, uma música, um beijo, um lugar, qualquer coisa. Pelo menos é isto que acontece comigo.
Os poemas não me pertencem. Pertencem a todos. A Arte é de todos. Porque todos interagimos com ela. Todos a fazemos nossa. Temos uma interpretação dela, que é sempre válida. Pode não ser a verdadeira, mas é a nossa. Apenas quem o escreve sabe exactamente o significado puro do poema. Porque só ele sente aquilo exactamente como sente, passou pelas experiências por que passou... Somos todos únicos. Podemos olhar para a mesma palavra de várias maneiras, algumas delas pessoais.
Nunca escrevo algo a pensar “irão eles gostar?”. Isso não seria o que eu sinto, mas o que os outros querem ver. Uso as palavras que quero. Uso os meus sentimentos. Chocantes ou não, são os meus sentimentos.
Arte é resistência. É a nossa verdadeira voz, é o que faz de nós quem somos. Podemos mudar o mundo com esta guerra pacífica.
A imagem ilustrada é cortesia do senhor Trent Reznor.
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