4.11.08

O Homem Cinzento

Ele estava sozinho na sala. Não havia lá mais nada para além do seu corpo nu. Apenas o seu pensamento. Uma sala sem limites. Não via o tecto, o chão, as paredes… Não via nada do que estava à sua volta. Parecia tudo escuro. Ou tudo preto. Ou talvez vazio. Estava deitado no chão, sem o ver. Sentou-se. Levantou-se e andou um pouco, procurando uma das paredes. Andou, andou, sem encontrar nada sólido. “Serão as paredes sequer sólidas?”. Podiam não ser. Podia tê-las atravessado sem o sentir. Mas não. Sabia que ainda não as tinha trespassado. Interrogou-se sobre quais os limites da sala. Perguntou-se se era uma sala. Estaria sequer num espaço físico? Estaria num sítio que transcendesse o físico?
Não sabia sequer se estava vivo ou morto. Não sabia se aquilo era um sonho, um pesadelo, uma experiência posterior à morte, anterior à vida… Não sabia, mas queria saber. Se não soubesse, apenas se sentiria perdido. Se não quisesse saber, sentir-se-ia estranhamente animalesco. O que seria pior. Mas porquê? “Por que quero saber isto tudo?” Será para satisfazer uma simples curiosidade? Será por capricho? Será para sair da sala? Será para fazer algo com a sala? Para evoluir? Para seguir em frente? Para voltar? Para acordar? Ou teria simplesmente de esperar para acordar daquilo que poderia ser um sonho? Será que, se se sentar e esperar, acorda? Será que a verdade virá? Será que há verdade? Estas e tantas outras, tantas, tantas outras interrogações atravessavam-lhe a mente como flechas a passar ao lado do alvo. Mas cada vez se aproximavam mais do centro.
Olhou para as suas mãos. Eram cinzentas. “Ou será ilusão? Será a minha mente a pensar que estou cinzento?”. Todo o seu corpo estava de um cinzento, uma cor baça. Tentou sentir-se, tocando-se em vários pontos e áreas do corpo. Era a única forma que a sua vista alcançava. Era um homem. Era um ideal. A personificação do ideal clássico. Não fazia sentido. Era perfeito, mas ao mesmo tempo tão imperfeito. Tão incompleto. Tão vazio. Não sabia se era humano. Não sabia o que era. Não sabia quem era. Não sabia há quanto tempo ali estava. Não sabia de onde tinha vindo. Não sabia para onde iria. Queria tanto saber isto, que procurava todas as respostas ao mesmo tempo.
Se as encontrou, já não sei. Apenas sei que se aproxima cada vez mais dessas respostas. A cada pergunta, aproxima-se da resposta. Com cada resposta vem uma pergunta nova. E o cinzento torna-se prateado. E no horizonte da sala pareceu ver-se uma parede…

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei muitooo deste :D muito filosófico...dá que pensar...parabéns ;)